Os desafios do relacionamento conjugal na pandemia
A pandemia trouxe muitos desafios para vida familiar e conjugal: Intensidade de emoções; presença de muitos medos e incertezas; redefinição de papeis e responsabilidades; acúmulo de funções com o trabalho e escola, coexistindo dentro de casa e uma imersão na convivência pessoal e familiar, que não fora vivida antes.
Alguns casais descobriram uma forte intimidade, com maior conexão, ajuda mútua, novos hobbies e novas formas de diversão, o que traz mais leveza para relação. Já outros, colocaram em xeque a própria sobrevivência da relação.
Relacionamento conjugal, sempre foi desafiador e na pandemia, mais ainda. É tempo de refletir sobre a forma como nos posicionamos e como o parceiro se posiciona na relação, dado o grandioso impacto que este desafio trouxe para dinâmica do casal.
Temos o ideal de casamento, como fonte de felicidade, bem-estar e equilíbrio, com forte expectativa que isso será promovido pelo outro. Nos nossos relacionamentos, nutrimos a ilusão de que somos afetados pelo que vem de fora e atribuímos ao parceiro a culpa pelo nosso mal-estar e pelas sensações incômodas do cotidiano. Assim, nos eximimos da nossa responsabilidade e nos colocamos no lugar de vítimas da atuação do outro.
Precisamos aprender que desfrutar a satisfação da presença do outro em nossas vidas é diferente de delegar ao outro a responsabilidade pela nossa satisfação existencial. O outro funciona na relação como um espelho, onde podemos nos enxergar, reconhecer e transcender o que nos incomoda, na busca de uma vida mais plena em sentido e significado.
Nos relacionamos com nós mesmos, através do outro. O outro nos desafia nas nossas fragilidades e potências. Um grande engano dos relacionamentos é buscar no outro o amor que nos falta. Não há amor no mundo, capaz de preencher uma pessoa que não se ama.
A proposta da psicoterapia individual e/ou de família e casal, é ampliar a reflexão sobre si mesmo e sobre como nos posicionamos e nos relacionamos com o mundo.
A busca do autoconhecimento e do contato com as nossas emoções, é um recurso poderoso para libertar o outro do lugar de atender as nossas necessidades. Temos que experimentar o bem-estar de forma autônoma e independente, para sermos cúmplices da felicidade com as pessoas com as quais nos relacionamos. O melhor que podemos compartilhar com o outro é o que cultivamos em nossos corações.
A psicoterapia de casal é um espaço precioso de crescimento dos parceiros, que são convidados a refletirem sobre como cada um colabora com a harmonia do casal, como cuidam de si e dos abismos, que muitas vezes se apresentam na conexão e comunicação do casal, sobre o desejo de que o outro mude seu modo de ser e se comportar no mundo, para que o casal avance nos seus desafios do cotidiano, entre outros.
Nossos relacionamentos nos ensinam e revelam muito sobre como somos e o que precisamos aprender e mudar em nós mesmos e não no outro.
O modelo mental da escassez, nos coloca no lugar de vivermos sob a tirania das nossas carências e buscamos no outro o que nos falta. A sensação de abundância nos conecta com o outro a partir do nosso bem-estar, lhes oferecendo e compartilhando o melhor de nós mesmos.
Quando assumimos o compromisso de amar a nós mesmos, assumimos a responsabilidade de cuidarmos no nosso bem-estar pessoal e não delegar aos outros. Só podemos compartilhar com o outro, o que cultivamos em nós mesmos, esse é o caminho para o amor verdadeiro.
Pessoas leves, cultivam relações leves. É importante dedicar tempo para cuidar das nossas feridas emocionais e se libertar para não reeditar as mesmas histórias em diferentes relações.
Kelly Pinheiro
Psicóloga clínica de adultos, casais e famílias