Depressão infantil: considerações sobre o sofrimento psíquico na infância
A depressão é um tema complexo, multifatorial e que ainda é de difícil compreensão na nossa sociedade. Ao contrário do que muitos pensam, crianças também podem sofrer de depressão.
A depressão infantil cada vez mais vem chamando a atenção dos profissionais que atuam na clínica com crianças e precisamos reconhecer a importância de falar sobre esse tema de forma cuidadosa.
A concepção da infância representa o começo de vida, carregada de felicidade, inocência e expectativas para o futuro. Por essa razão, muitas vezes é inconcebível pensar que os pequenos também possam vivenciar algo tão assustador como a depressão.
A criança também se desespera diante das dificuldades da vida, como em casos de separação dos pais, morte de um familiar próximo, ou situações de violência. Esses conflitos intensos acarretam um sofrimento psíquico na criança, interferindo em atividades fundamentais da vida e no desenvolvimento infantil.
Os adultos apresentam uma dificuldade enorme de lidar com o sofrimento da criança e consequentemente adotam uma postura de proteção, achando que a melhor solução é poupá-las de falar sobre determinados assuntos. É comum ouvir falas como: “Isso é coisa de criança”, “são muito pequenos para isso” e “ vai passar quando crescer”.
De fato, é mais difícil de diagnosticar a depressão na infância, pois muitas vezes os sintomas podem ser confundidos com birra e malcriação.
O que diferencia a depressão das tristezas do dia-dia são a intensidade, a persistência e as mudanças provocadas na rotina da vida da criança. Dessa forma, é preciso estar atento a essas mudanças, tais como: baixo rendimento escolar, isolamento, tristeza, medos, perda de apetite, raiva, irritabilidade, distúrbios do sono, dentre outros fatores.
A partir dos 11 anos tem sido comum ocorrer o cutting, que é o ato de fazer cortes em si mesmo por não conseguirem lidar e nem explicar o que estão sentindo. Sendo assim, o corte em alguma parte do corpo desloca algum sofrimento emocional, mostrando que a dor física é um refúgio para a dor psíquica.
Assim, todos esses sintomas sinalizam um pedido de ajuda e é preciso ouvir o verdadeiro sofrimento que se esconde atrás deles.
Vale destacar que o diagnóstico precisa ser cuidadoso e realizado por profissionais da saúde especializados, tendo em vista que muitas crianças, nomeadas depressivas, estão adentrando precocemente na medicalização. Então ao perceber qualquer sintoma busque serviços e profissionais da saúde qualificados para dar o atendimento necessário.
As creches e escolas também desempenham um papel importante para identificarem qualquer alteração emocional e no comportamento da criança, uma vez, que estes profissionais acompanham boa parte da sua rotina.
É fundamental que todos os envolvidos nos cuidados de uma criança, estejam atentos e sensíveis ao sofrimento psíquico desta, dando um suporte de apoio. Pais e cuidadores devem acolher as angústias, medos e inseguranças dos pequenos, permitindo que estes consigam expressar suas emoções e sentimentos. Isso faz com que se construa uma rede de apoio para essa criança, onde é transmitido acolhimento, proteção e segurança.
Nesse processo de investigação diagnóstica, não podemos perder de vista a singularidade, subjetividade e história de cada criança que recebemos nos nossos consultórios. Cada criança e a sua respectiva família atravessa o sofrimento psíquico de uma forma única e isso precisa ser levado em consideração ao longo do tratamento.
O processo terapêutico proporciona que as crianças encontrem meios de conseguirem pela via da palavra e/ou de forma lúdica, simbolizarem e darem um contorno nesse sofrimento que os acomete. O trabalho do psicólogo com crianças oferece recursos para que os pequenos consigam construir novos modos de lidar, atravessar e elaborar suas vivências penosas.
Vamos investir na saúde mental das nossas crianças!
Vivian Jerusalmi Nigri
CRP 05/ 54.125